Atividade 5
- Boa tarde! É o que diz a secretária, sob um adorável sorriso.
- Boa tarde, gostaríamos de falar com o Sr. José Eugênio*. Responde a Sra. que fala pelos outros três jovens.
- Um momento, ele já vai lhe atender.
A resposta não correspondeu a nenhuma ação, na verdade o homem procurado estava em outra sala ao telefone, e sua voz nos chegava de uma maneira um tanto alterada. Passado algum tempo, chega o Sr. José, com a frieza estampada na face, nos olha. Em silêncio, ignorando o cumprimento de boa tarde dada pelos visitantes, senta-se em sua cadeira segurando uma caneca com uma grande estampa em azul, em contraste ao avantajado anel vermelho. BMW, estava escrito na caneca.
- Precisava essa caravana? Diz o homem, cruzando suas pernas e olhando os quatro indivíduos.
Um mal-estar paira no ambiente, a Sra., um pouco desconcertada, explica que estavam ali interessados em alugar um apartamento que acabavam de visitar com a proprietária, o qual ele era o corretor e advogado. O homem os fita, toma um gole de sua bebida, e diz:
- Você tem propriedade aqui em Niterói?
- Não, mas tenho em Valença. – Responde a Sra.
- Então não dá, como eu vou sair daqui de Niterói para executar você em Valença?
Um dos jovens intervém.
- Espera, o Sr. está partindo do pressuposto de que não vamos pagar.
- É claro – retrucou o homem – eu não conheço vocês.
- Valença fica perto de Vassouras, não é?
- Sim! - Respondeu a Sra. com uma ponta de esperança – a alguns quilômetros.
- Você conhece a família Peralta, de Vassouras.
A Sra. faz um esforço de memória por alguns instantes ...
- Não conheço. – A resposta foi uma espécie de lamento.
- Como assim você não conhece a família Peralta? É uma família tradicional!
Estupefados diante da dantesca cena, um dos jovens comenta:
- O apartamento só pode ser alugado para conhecidos da família Peralta?
O homem olha para a Sra., reclina-se para frente e diz:
- Olha, com vocês três até dá para conversar, mas aquele rapaz é muito mal educado! Não vou alugar o apartamento, pronto!
Depois dessa declaração os quatro se viram em direção a porta e saem, antes de sair um dos jovens olha para o homem e, num tom de desabafo, diz:
- Chafurde na lama de sua vida infeliz, seu porco capitalista.
E os quatros interioranos se entreolham sem saber o que dizer sobre o teatro da vida real, sem compreender o fundo daquela reação, além do “pecaminoso” fato de não conhecer a família Peralta.
* O nome fictício.
Creio que esta passagem pode demonstrar vários aspectos abordados por Max Weber, os tipos de dominação, como ela se aplica e, ainda, a simbologia que envolve este poder.
O advogado, em seu escritório, ostenta símbolos que o difere dos demais membros da sociedade, como seu anel vermelho, por exemplo. Se cerca de símbolos que demarcam, hipoteticamente, o consumo referente à sua classe, como a caneca da BMW. Esses padrões semióticos o coloca de forma privilegiada diante das relações sociais, em uma tentativa de convencer seu entorno de que está hierarquicamente acima dos demais.
De fato, o status social conferido à sua profissão sugere um domínio, ou em outras palavras, possibilita o exercício de poder através do conhecimento e utilização das leis a seu favor, reforçado pela alienação do vocabulário e dos procedimentos jurídicos da grande maioria da população. Esse Domínio do aparato legal lhe confere não só um poder de fato, como um poder coercitivo que opera no subconsciente das relações interpessoais, ou seja, um poder que permeia as relações alocando os indivíduos em diferentes estratos sociais.
Outra ponte que esse “causo” possibilita com os escritos de Weber está na referência à Família Peralta. O fato de conhecer essa “família tradicional” representa reconhecer uma liderança tradicional e local, um poder que está ligado às relações diádicas desenvolvido por essa família. Esta rede de relações, em última análise, é uma das formas sobreviventes do clientelismo arcaico, e que sustenta uma classe pelo reconhecimento social de sua herança de poder tradicional, por um lado, e uma reserva de capital político para quem os conhece – e é conhecido – se submetendo ao seu protetorado.
Sobre a outra forma de dominação, temos que reconhecer: Esse advogado é muito carismático!!
- Boa tarde, gostaríamos de falar com o Sr. José Eugênio*. Responde a Sra. que fala pelos outros três jovens.
- Um momento, ele já vai lhe atender.
A resposta não correspondeu a nenhuma ação, na verdade o homem procurado estava em outra sala ao telefone, e sua voz nos chegava de uma maneira um tanto alterada. Passado algum tempo, chega o Sr. José, com a frieza estampada na face, nos olha. Em silêncio, ignorando o cumprimento de boa tarde dada pelos visitantes, senta-se em sua cadeira segurando uma caneca com uma grande estampa em azul, em contraste ao avantajado anel vermelho. BMW, estava escrito na caneca.
- Precisava essa caravana? Diz o homem, cruzando suas pernas e olhando os quatro indivíduos.
Um mal-estar paira no ambiente, a Sra., um pouco desconcertada, explica que estavam ali interessados em alugar um apartamento que acabavam de visitar com a proprietária, o qual ele era o corretor e advogado. O homem os fita, toma um gole de sua bebida, e diz:
- Você tem propriedade aqui em Niterói?
- Não, mas tenho em Valença. – Responde a Sra.
- Então não dá, como eu vou sair daqui de Niterói para executar você em Valença?
Um dos jovens intervém.
- Espera, o Sr. está partindo do pressuposto de que não vamos pagar.
- É claro – retrucou o homem – eu não conheço vocês.
- Valença fica perto de Vassouras, não é?
- Sim! - Respondeu a Sra. com uma ponta de esperança – a alguns quilômetros.
- Você conhece a família Peralta, de Vassouras.
A Sra. faz um esforço de memória por alguns instantes ...
- Não conheço. – A resposta foi uma espécie de lamento.
- Como assim você não conhece a família Peralta? É uma família tradicional!
Estupefados diante da dantesca cena, um dos jovens comenta:
- O apartamento só pode ser alugado para conhecidos da família Peralta?
O homem olha para a Sra., reclina-se para frente e diz:
- Olha, com vocês três até dá para conversar, mas aquele rapaz é muito mal educado! Não vou alugar o apartamento, pronto!
Depois dessa declaração os quatro se viram em direção a porta e saem, antes de sair um dos jovens olha para o homem e, num tom de desabafo, diz:
- Chafurde na lama de sua vida infeliz, seu porco capitalista.
E os quatros interioranos se entreolham sem saber o que dizer sobre o teatro da vida real, sem compreender o fundo daquela reação, além do “pecaminoso” fato de não conhecer a família Peralta.
* O nome fictício.
Creio que esta passagem pode demonstrar vários aspectos abordados por Max Weber, os tipos de dominação, como ela se aplica e, ainda, a simbologia que envolve este poder.
O advogado, em seu escritório, ostenta símbolos que o difere dos demais membros da sociedade, como seu anel vermelho, por exemplo. Se cerca de símbolos que demarcam, hipoteticamente, o consumo referente à sua classe, como a caneca da BMW. Esses padrões semióticos o coloca de forma privilegiada diante das relações sociais, em uma tentativa de convencer seu entorno de que está hierarquicamente acima dos demais.
De fato, o status social conferido à sua profissão sugere um domínio, ou em outras palavras, possibilita o exercício de poder através do conhecimento e utilização das leis a seu favor, reforçado pela alienação do vocabulário e dos procedimentos jurídicos da grande maioria da população. Esse Domínio do aparato legal lhe confere não só um poder de fato, como um poder coercitivo que opera no subconsciente das relações interpessoais, ou seja, um poder que permeia as relações alocando os indivíduos em diferentes estratos sociais.
Outra ponte que esse “causo” possibilita com os escritos de Weber está na referência à Família Peralta. O fato de conhecer essa “família tradicional” representa reconhecer uma liderança tradicional e local, um poder que está ligado às relações diádicas desenvolvido por essa família. Esta rede de relações, em última análise, é uma das formas sobreviventes do clientelismo arcaico, e que sustenta uma classe pelo reconhecimento social de sua herança de poder tradicional, por um lado, e uma reserva de capital político para quem os conhece – e é conhecido – se submetendo ao seu protetorado.
Sobre a outra forma de dominação, temos que reconhecer: Esse advogado é muito carismático!!
1 Comments:
Sabrina, sobre o comentário do carisma desse cidadão é uma grande ironia!!
Sobre a liderança carismática, não necessariamente ele é revolucionário, e nem opositor ao sistema, vide Getúlio Vargas, um grande exemplo de liderança carismática e não era opositor ao sistema.
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